__No último dia 2 eu acordei em uma cama de hospital. Por algum cacete eu não lembrava o que estava fazendo alí. Passei um bom tempo -não sei quanto, mas acho que mais de uma hora- tentando aceitar que eu tinha que estar alí. Éter. Melancia. Éter e melancia. Fetiche.
__Em Algum momento um sujeito apareceu, de branco, mas não consegui tempo pra perguntar o que havia se passado. Viado. Um enfermeiro viado. Pra usar um perfume de melancia só pode ser viado. Enfermeiro e viado. Lixo.
__Lembro que quando eu era novinho, daquela idade onde bonecos de ação faziam a minha cabeça, eu sempre acreditei que nunca seria como meu pai: jamais me casaria com uma mulher. Precisei só de alguns meses pro meu pai me ensinar que e nunca me casaria com um homem. Era um sábado a tarde e, depois de passar num bar com amigos do trabalho, meu pai espancou dois caras que se beijavam ao lado do nosso carro. Fiquei com medo, assustado, fiz cara de choro. Meu pai limpou a mão na camiseta de um deles, virou-se pra mim e perguntou: "aprendeu?" Aceitei.
__Meu estômago começou a fazer alguns ruídos um tanto escrotos, mais ainda do que ele já tava fazendo por causa do meu pavor daquele ambiente onde as agulhas pairam no ar. Providencialmente, alguém apareceu lá com comida. Éter e feijão. Éter, feijão e melancia. Porra de enfermeiro viado. "'Brigado", só. Gemi ao tentar abrir a boca. Me dei conta do estrago. Puxei o lençol de lado e fui sacando um sem número de escoriações pra tudo quanto é canto. Comi tão devagar que, lá pela quinta garfada, aquela mistura de desgraça sem sal já tinha ficado fria. Éter, feijão e melancia. Peristalse.
__Teve um sujeito que eu estudei junto no colégio que me fazia rir demais nas aulas de educação física. O cara era grande, um pouco mouro, com um caralho de olho verde qu fazia as tetas daquele monte de estrogênio ambulante saltar pelas camisetas. Eram tantos comentários, tão rápidos, que eu não conseguia tirar os olhos dele. Eu ria e aquelas piranhazinhas loucas pra sentar no colo dele. Sério, muito criativo. Meu pai disse que ele era bicha. Babaca. O cara era demais, como ser, então, um chupa rolas?
__Deu tanto trabalho tentar colocar a bandeja do lado do leito que eu acabei deixando em cima das minhas pernas. Comecei a enjoar daquele cheiro de melancia. Cade aquele viado pra abrir a janela e expurgar essa desvirtuação do quarto? Impregnado. Cheirei o lençol e lá estava: melancia. Aposto que esse filho da puta se esfregou em mim quando eu tava apagado. Vou denunciar esse bosta. Gosta de pica? Vamos ver se ele ainda vai gostar depois de ser fodido por uns 200 pretos aidéticos enjaulados. Abriram a porta e eu já fui balbuceando meu ódio. Mas apareceu o meu velho.
__Uma parada que me agradava era assistir filme de sacanagem com os camaradas do condomínio. Tinhamos uma coleção coletiva. A gente sempre pulava a "histórinha" do começo. Queríamos mesmo era aquela coisa mais hardcore, pra começar aquele plac plac coletivo e individualizado. Um nojo. Um barato. Fetiche.
__Troquei o ódio imediato por ternura e ameacei um 'oi' pro meu pai, mas ele falou antes. Eu lembrei daquela camiseta. Sábado. "Aprendeu?"
Poxa Tom! Gostei pra caralho deste conto. Podemos chamar de conto? Tive umas inspiraçoes para escrever no inicio do ano, mas fiquei só na inspiraçao. Faltou passar pra pratica.
ResponderExcluirVocê me inspira de novo, a ver se dessa vez parto pra açao!