Meu negócio sempre foi tuba. Era pesada, arrastada, ocupava muito espaço, mas era completa em si. O timbre grave, se tocado com jeito, me fazia chorar. E chorar era tudo o que eu queria. Num descompasso mais ou menos compreensível, desistí da tuba -ela desistiu de mim?. Apesar da angústia provocada pela falta de música, aproveitei um pouco pra estudar tricô. Fiz uma ou duas meias e ainda uma toquinha, mas só. Não consegui ir além, mas ainda assim consegui tirar algum proveito disso: linhas (cordas!) frouxas. Optei pelo violino. Mas não seria um violino qualquer, tampouco seria um único violino. Queria violinos com cordas frouxas, pra tocar as mais diversas e, por que não, rôtas, maltrapilhas e muito bem acabadas, músicas. Tocadas assim, elas são honestas, apesar de insuficientes a ouvidos exigentes. Músicas honestas, imprevisíveis e frágeis, era tudo o que eu queria. E assim foi, e assim é, e assim vai ser, mesmo eu sabendo da melodia que só uma tuba bem tocada possui. Agora me afogo nos violinos, pensando em como são belos e instáveis, e em como nunca serão uma tuba.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
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Realmente, nunca serão uma tuba.
ResponderExcluirMas a melodia é mesmo uma coisa engraçada, né? Vamos, voltamos, deixamos de lado e depois queremos ouvir (e porque não, sentir) tudo de novo...
Só acho mesmo impressionante o quanto esquecemos de como é uma música, e só fica aquela sensação, uns traços na memória. Pra saber mesmo a gente precisa ouvir...
E lembrar que até uma música boa fica rota e desgastada quando tocada em demasia.