segunda-feira, 26 de julho de 2010

- o que faz sentado aqui, sr.?
- guardo esta porta.
- guarda o que, sr. guarda?
- guardo esta porta.
- e o que tem ela de especial?
- ela guarda bens preciosos.
- mas a porta não é confiável?
- hm...
- se ela não é confiável, por que deixaram ela cuidar dos bens preciosos? podia ser só você.
- eu guardo a porta para que ninguém abra a porta.
- ninguém?
- ninguém.
- mas de que servem então os bens preciosos?
- para serem guardados.
- para todo sempre?
- para todo sempre e sempre.
- não entendi.
- olha, se eu não cuidar da porta, vem alguém, abre a porta e leva os bens preciosos embora, o que não lhes é de direito.
- mas não é de direito de ninguém.
- exatamente.
- mas então por que você guarda, sr. guarda?
- ora, mas justamente pelo que te expliquei: se eu não guardar, alguém pega.
- mas se você guardar, ninguém pega.
- e?
- e de que serve?
- é o meu trabalho.
- a troco de que?
- de um comes e bebes. é o que me pagam por isso.
- quem 'te pagam'?
- o sr. que de quando em quando entra na porta e me pega o ordenado.
- mas você deixa ele entrar, sr. guarda?
- claro.
- mas e o 'ninguém pode', como fica, sr. guarda?
- só ele pode.
- por que só ele pode? que tem ele que ninguém tem?
- tem o comes e bebes que me cabe.
- mas ele só tem porque você deixa ele entrar.
- mas é por isso que como e bebo.
- e se você entrasse, sr. guarda?
- não me é de direito.
- e se todo mundo entrasse, sr. guarda?
- todo mundo tem o direito de ninguém: ficar de fora da porta.
- direito de quem, sr. gurda?
- ninguém.

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