sexta-feira, 19 de novembro de 2010

palavra boa, dita, permanece

A primeira impressão, felizmente
ficou.
Todas as velas foram acesas
por fogo-fátuo, em surpresa sorridente.
O desaviso fez escala em festa,
com serpentina e confete,
com chuva, frio e complicação.
Criação divina, capaz de mascarar
a incompetência,
instantaneamente.

E ficou o gosto,
maturando,
dias a fio, aguardando luz.
E novamente pelo susto,
sorri.

Em pantanoso solo
encontrei a cor da ansiedade.
Mas em querer, sem ter na mão colete salva-vidas,
quase fui. Fiz-me próximo e honesto,
pra jogar.
E joguei bem. Me puxou do lodo pela mão
e sorriu. E por sabor, ainda melhor.

A cama da descoberta é dura,
concretada sobre o mar e coberta por nuvens.
Magalhães, de cima, aprova tudo.
Não é sabido o que será, mas só o que
é. E é bom.
Apagam-se as verdades imponentes
do cotidiano e do perigo,
sobrando só a carne. Dela
nada mais é esperado
além de saliva.

Do toque infantil, atrapalhado,
quase sempre tremido,
construiu-se a certeza.
Construiram-se sujeitos não individualizáveis.
Mas as titânicas torres,
de sólidas fundações,
seguem sujeitas ao vento,
tal qual o mar. E ao chegar
na costa
a onda morre, não sem antes
afogar alguém.
Vem série, vai série. O horizonte continua
firme.

Os torrões que se descolam
por todo o caminho
são lavados pela constante
chuva. O território ao qual pertencem
acolhe as necessidades
e deixa o silêncio mais bonito,
a pele mais morena,
o cabelo mais loiro,
o sexo mais vadio. Sempre sólido.

***

O acaso é uma necessidade física.
Negar certos princípios da aleatoriedade
é negar a humanidade.
Do Deus conceitual nada espero
que não seja diversão sofista,
mas a certos olhos arregalados
quase rogo em Vosso nome.

***

Momento oportuno em que crescer
foi opção. E distanciamento pesa.
O sonho de Newton não previa isso,
mas o sistemático retorno
ao seu lugar
natural,
fez do lugar a demência,
uma quase obrigação,
incompreensível.
E os sussuros agoniados
de erva maldita
fortaleceram a impossibilidade
da razão
de ser crítica.

Ímpeto falho, mas por sorte estendida,
revogável.
Sorriso terno de quem,
temendo,
estende novamente a mão. Incrível.
Chorar de arrependimento tendo em mãos
o ato já desculpado. Muita força pra pouca
emoção.

Reestabelecida a ordem, do retorno
ao natural,
solavanco agudo. Cresce também a pequena
responsabilidade.
Vai-se a primeira impressão, a passos
largos, rumo a casca frágil que separa
o tesão
do espírito. E novamente Newton.
Voltado contra a vontade, descobri o que significa
dor. Psicossomático infantil em sua enésima potência.
Chagas quase místicas em meio
a insanidade policial
e a necessidade do aprender.

Carregado por meses nos braços
do medo,
só a leveza da carne pra salvar.
Mas de novo. E arrastado,
em festa,
para o hospital. Cuidar de quem
de mim não cuidava.
Leito, vontade, distância.
Suportar alheia cólera acumulado por puro vício da posse.

***

Há um limite para a grande maioria das coisas. Um desses limites é definido pelo conhecimento adquirido sobre a própria doênça. Quando se sabe que postergar o suicídio é apenas uma forma de torna-lo ainda menos eficaz, é melhor resolver. E o pior gatilho a ser puxado é o do suicídio funcional ao arrego do outro. Aceitar a morte da verdade em nome da covardia.

***

O subterfugo que se eleva
entre os olhos e o
horizonte
é de amargor insano, respondido por
ácido. Paredes estomacais fodidas
por temperamento
burro.
Embriagado, encontrando o novo
onde não se procurava.
Nem por isso menos pior.
Como se prevendo a explosão,
trabalharam quânticas as ideias
e só serviam
pra tirar o sono.

Maturar ciúmes em caldeirão de látex.

Quadro ruivo, quadro branco. Tão
importantes,
mas ineficazes quando a mão
se estende novamente,
não mais pra socorrer,
mas pra ser
socorrida.
E quadro criado manchei,
mas não desatinei. Topei
por querer. Por crer.

Retorno ao princípio.
Carne novamente avermelhada,
com sombras inconstantes
de velas cumplices.
Sujeira revestida de honestidade
e frizante,
coroando sorriso mais
maduro.
Acreditado em eterno retorno,
planeja-se um finalmente. Ganha força o desejo.
Ganha cor
a rotina e opaca
a saudade.

Memórias mais frescas,
melhor resolvidas,
vivendo o acalanto da certa incerteza,
de quem parece
ainda estar um passo atrás. O que foi?
E paira só isso, em meio
a olhos escuros
vistos no escuro.
Lábios rachando de frio e
uso.

***

O que foi? Aparece em uma volta.
E só isso multiplica. Minutos capazes de
arrombar
uma úlcera.
Incerteza acumulada, empatia entregue aos diabos
e Newton cagando no pau.
O que foi? Se torna problema. As palavras se tornam problema e escassam.
Não há mais calma, não há mais sono, não há mais saúde.
Os brindes vão sumindo.
O ano minguando.
Espasmam ligeiras carícias em meio
a raiva.

E segue na procrastinação,
crendo ela resolver
alguma
coisa.

Querendo

sua
verdade, honesta e dita, em termos nada subjetivos.
As coisas tem nome e os nomes devem ser ditos.

Esconde a palavra somente o covarde que não ama pra valer.

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