domingo, 9 de janeiro de 2011

you can't fuck with me, 'cause I'm everything

Transpirou em culpa quando, sem mais nem menos, Camila perguntou "quem diabos fez isso com o menino?". Era certo que não haveria engano e todos se viraram para ela. Enrubescida, baixou os olhos e apertou os lábios, sabendo do erro que cometera.

Na sala ao lado figura o corpo esguio de um homem, horrivelmente apresentado aos outros moradores do sobrado, com feridas apodrecidas e cabelos oleosos, ganhos com o expandir da doença. Desde que fôra abandonado pela garota, não conseguiu mais sair de lá, o exato mesmo lugar onde foi passado pra trás. Quem entra lá - e poucos tem tido coragem de fazê-lo, dada a condição mórbida que adquiriu o cômodo -, vezes sem conta, transfere para si parte do peso que o infeliz insiste em carregar. Todos saem da sala, um a um, apaixonados. A angústia de tão estúpidos objetivos despropositados entumece nos olhos de cada filho da puta que põe o pézinho lá, só pra ver como o pobre diabo vai sendo carregado por Saturno.

"Continuo guardado, em meus próprios desejos, esperando a pessoa que nunca mais vai voltar", pensou.

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