Nunca disse o suficiente. Nunca achei que precisaria fazê-lo, tamanha era minha certeza pela eternidade. Nunca pensei que eu não bastaria mais. E é assim. É exatamente assim. Uma hora a coisa esfria, algo sai do planejado e pronto, dois vira um e um. Mas algumas cabeças são mais fortes do que outras. Pra minha desgraça, a que carrego não é das primeiras. Demoro pra entender a coisa. Demoro pra me acostumar. E quando vou conseguindo, qualquer detalhezinho, qualquer besteira, qualquer dente de leão perdido na grama é o bastante pra eu lembrar que vou sendo esquecido. Percebe isso? ‘Lembrar que vou sendo esquecido’. Sim, sim, sim! É inacreditavelmente dolorido. E tudo, tudo o que eu não queria era isso. Trata-se do exato oposto de tudo o que já desejei. Disponho-me a ajudar, a estar perto, a ser alguém, mesmo sabendo que isso jamais resolverá o meu problema. Como tratar? Abandonar de vez a canoa, esquecer que fui remo junto ao movimento e zanzar por aí até encontrar outra e afundá-la comigo? Manter-me resoluto com a cabeça a milhão, esperando um milagre? Dar as mãos a Sal Paradise e desencanar daqui? Nada parece certo ou possível. Ou me dano sozinho ou levo alguém comigo. A vontade, confesso, é vingativa. Por que eu, que já fui tanto, devo agora aceitar que sou apenas terra firme, onde se pode jogar a âncora e ficar olhando sem sair da água? Foram tantos, tantos e tantos finais de tarde e amanheceres pra, agora, tudo ficar turvo e nunca ser verdadeiramente nem dia, nem noite. Recorro à literatura, como se a fantasia dos outros fosse capaz de suplantar a minha. Mesmo o calor do álcool é inútil. Ficar feliz com o inverno como, se agora é só pra passar frio?
Meu dois tem que virar um.
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