segunda-feira, 5 de setembro de 2011

das vozes


Ando ouvindo vozes. Muitas delas.

Ouvi a voz das delicadas mãozinhas de distinta senhorita de sorriso tão roxo que quase cantava: “ei você, cara de coelho!”
Ouvi a voz do tilintar rouco dos canecos da Baviera ecoando por entre as longas mesas de meus sonhos festivos.
Ouvi a voz de minha família no correr fervido de meu sangue e nas rugas de minha testa.
Ouvi a voz absorta dos buracos negros ao largo, aguardando com funesta paciência o devir dos tempos.
Ouvi a voz azul¹ da coroa de minha bicicleta.
Ouvi a voz muda do espaço explodindo nos limites da existência.
Ouvi a voz do passado sob meus pés, derretendo a sola de meus sapatos e envolvendo minhas pernas com unhas-de-gato pré-históricas.

Ouvi tudo isso em todas as línguas que ainda nem me existiram e compreendi nos pormenores cada silabazinha. Todas as vozes desses espíritos me voaram desconexas:

“À vida!”
“À vida!”
“À vida!”


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¹ O azul me faz querer ser bicho de asas, penas e visão menos turva.

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