Um certo Fabiano, por vez de uma molecagem do governo com o preço do feijão, resmungou meia dúzia de impropérios indecifráveis defronte a prateleira da venda, pegou um pacote e sumiu. Pensei no caso.
Diz-se que os macacos, como método de interação, catam piolhos uns nos outros. As gentes, essas dos nossos meios, conversam. Por algum erro de programação, eu fiquei mais próximo dos macacos. Serve-me, mas atrapalha. Atrapalha pra aproximar meu espírito de uns e outros, senão de todos, o que me afasta sempre mais da chave que abriria o cadeado que me prende à mesa de mármore. Aqui sou estável, junto com os clássicos que mofam em cima dela. É confortável, confesso, mas parece que não faz sentido.
O anseio acovardado de quem só reza a mesma missa, mas sabe que prega no templo errado, fica corujando num canto da cabeça, dando uma coceira danada (pode ser a caspa). E dá medo passar o facão na coruja. De que adianta se apoquentar com um pássaro olhudo, se no inverno não vai dar mais pra se esquentar, atinar as idéias com cerveja e pregar os olhos de conchinha? Me grudo nessa idéia e tento fazê-la verdade. Olho pra cima daquela frieza do mármore e os tais me dizem o contrário, mesmo repousando eternamente ali.
Se vou me pondo resoluto dessa consternação, as corujas se põem numa marulhada. Só que eu aprendi a fechar as janelas e botar a música mais alta que elas, mas é como uma chiadeira de uma vassourinha na caixa: propositalmente encoberta e notável. Mas daí me volta o Fabiano e o feijão e acabo forçando o cadeado. Força daqui, de lá, uma veia salta, um sorrisinho de canto de boca, uma descabelada e tudo vira história pra contar. Nada como se gabar de feitos covardes. Tenho pilhas deles. Dava um livro.
No final das contas, fica por isso mesmo: pilhas de ossos na parede e na estante, a cara vermelha e a mão rachada quando retoma um pouco do Fabiano, os clássicos empoeirados sobre a mesa de mármore e a catação de piolhos. Mais uma vez inútil.
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