domingo, 19 de dezembro de 2010

horas na cama

Quando acordei e
as notas, espalhadas por todo o quarto,
me doiam nos ouvidos,
preferí baixar o vidro,
matar os pombos,
e me cobrir mais.
Nada,
em absoluto,
supre a abstinência que bate ao raiar do dia.
Nada. É como se, cansado,
o corpo não
funcionasse
direito.
E talvez nem funcione mesmo.
O rancor que transcende o controle racional
dos postulados do acordo
é maior. Deus não, o rancor sim.
Toda sorte de sons que reverberam,
sempre cedo,
e se arrastam pelo teto
equanto eu
olho,
pingam na cama sem que eu os tire da cabeça.
A crueldade de se criar
um amante
e afogá-lo em gotas azedas de saudade
é coisa de dar dó. E quem sente pena, afinal,
de alguém que realmente gosta, nesses
dias de
novidade?
Como ter coragem de se apegar,
quando não há
tempo
nem pra ver direito?
Há pressa em conhecer,
fazer,
lembrar e esquecer. E nem são 9 horas
ainda. Acabei de deitar e tudo
se
foi. Morto e leniente,
reza baixinho, pedindo
ajuda, pra cabeça funcionar,
sem perceber que,
rezando,
já não é mais correto.
O diabo da falta de tua carne,
que me segura tenso
manhã adentro
e não
me
larga, até a cegueira,
é obra concreta,
de teu vacilo.
Acreditar que as coisas se acertam,
mas que não é
hora ainda,
só deixa um buraco no argumento,
de quem mata agora,
pra se arrepender
logo em
seguida.
Vai comer frio o prato que está quente.
Se segura, pois mais dia, menos dia,
eu levanto na
hora
certa. E aí já
viu.

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