domingo, 1 de maio de 2011

desistido

Sete noites mal dormidas, acumulando
lixo nas
veias. Você acorda em
uma
cama estranha, numa penumbra pouco
familiar; precipita-se porta
afora e resolve
ir trabalhar.
À noite, ao deitar nos próprios lençóis,
que já cheiram a abandono, pensa
nos que acompanharam a
pourralouquisse descabida das
últimas noites. Dorme
sem lembrar bem dos
rostos. Durante a madrugada, enquanto
combatia o sono, sentado na latrina, limpando
o cólon, dá-se conta
de estar sozinho. A felicidade fora
partilhada com outros, tão
outros que
os nomes agora escapam completamente.
Tantas e tantas garrafas de
cerveja, maços de cigarro, coca
e tantas outras
merdas,
mantém-se mais firmes na lembrança
que as pretéritas eternas
amizades. Mesmo os
amores
mais intensamente jurados,
sumiram feito vapor barato.
A sensação de cagar a solidão é tão
forte que o podre do
ar se
reveste em melancolia. De
volta à cama, já é impossível aceitar
o sono.
Pouco antes do despertador tocar
você abre os olhos, reconhecendo
o contorno dos
objetos,
mas sem se lembrar
ao certo, se e como dormiu.
Os minutos que vão sendo levados, enquanto
espera a "hora oficial" do começo
do dia, estão tão
cheios de morte e
solidão, que
até o membro rijo, costumas daquela
hora, tornou-se insignificante
face tamanho horror da
visão de futuro. Você está
só; seus amigos sumiram; aqueles
que chama de pais, morreram;
sua garota já o deixou, não sem antes
fazer-se ainda mais desejada; os
novos parceiros
você nem sabe ao certo quem
são.
Nessa manhã você deixa
de ir trabalhar. Sequer abre a
janela do quarto.
Revira algumas velhas fotos e frustra-se com
o futuro delas. Hoje é um
péssimo dia.
Não há alguém em sua cama para
chamar, explicar o medo
dos anos idos e a
ir, coçar a
barriga
e beijar com a ternura das lutas de
boxe.
Você, que já se orgulhou do epíteto
'meu amor', escapa
então de todas
as possíveis possessões por terceiros.
Não é meu nem amigo, amor, filho
ou qualquer
coisa. Está só e,
infelizmente, não se
preparou para isso.

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