quinta-feira, 22 de setembro de 2011

sobre o muito que li e há muito não via


Navegados, os mares da falta são de um viscoso agudo.
Gruda na pele o torpe infinito de cada gota, castigando o juízo, o ego, a imaginação.
A sanidade vai mareando, embargando.
A vista cansa, mas não desenxerga.
O osso coça.
Há algo na dependência que é de sujeição, pra além da impotência.
Homens e mulheres entregues a quem não lhes têm.
Mártires dos que respiram o azul do sol.
Não fecunda vida boa um amor forçado pelo desaviso do bom senso.
Não respira boa forma um dois em um, que não é nem um nem outro.
Não existe bem o sujeito que não tem si mesmo em si.

***

Dei pra existir como sendo você em mim.
Acabou que gostei de fazer inversão à vida e, agora, se deu que sou todo novo, feito do velho e atento por vir a ser.

***

Todas as portas intumescidas pela dor foram abertas.
Os cômodos, agora arejados pelo desconhecido, não mais incomodam.
A cal fresca de cheiro frio e tóxico é o próprio paraíso.

“Brilhem nos céus os anjos da coragem,
os centroavantes do orgulho,
os beatniks do futuro!”

Foi tremendo que o corpo reagiu convicto.
Foi sem culpa que o espírito se enterneceu –e tão logo virou as costas, soube do acerto.
Entupiram-se os poros de possibilidades e, no repente dos desejos, a primavera já se adiantou.

***

Não podemos perder aquilo que não temos por opção.

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