sábado, 31 de dezembro de 2011

da madrugada ii


Na madrugada, todos os sons são
singulares; há o particular e nada
se mistura:
o motorista que perde o controle,
o cachorro, o homem que bate
em sua mulher,
o lixeiro, as navalhas, as putas,
garrafas partidas, corações
partidos, guardas de rua,
os secos estampidos, os loucos,
os fogos de fim de ano:
tudo isso me enjoa,
de tão humano.
Todas as aflições, todos os
cigarros acesos, todos os estupros:
tudo é acessível pela mente, mas
ninguém está lá.
A saudade não encontra apoio,
torna-se angústia.
Vemo-nos vivos demais, pois
nos cobrimos
de morte.
Não importa mais seu sono:
encarar a si mesmo mata,
ao poucos,
cada noite, cada dia, mais.
Somos assim humanos e, só
por isso, celebramos.

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